Olá amigos,
Hoje fiz uma visita ao Museu do Dinheiro, um dos inúmeros magníficos museus de Portugal. É a segunda vez que o visitei e desta vez foi ainda melhor. Tenho o costume de frequentar museus e cada vez que retorno aproveito mais.
https://www.museudodinheiro.pt
O MdD fica onde foi a primeira Igreja de São Julião, destruída no grande terremoto de 1755 (depois foi reconstruida em outro local). No começo do século passado a área foi comprada pelo Banco de Portugal, que a usou como casa forte e arquivo (aquilo parece um forte). De 2007 a 2012 o imóvel foi reformado e apenas no ano passado começou a abrigar o museu. Seu endereço é no Largo de São Julião na Rua Augusta, no bairro turístico do Chiado (bem perto do metro) e a entrada é gratuita. Durante sua reforma foram descobertos vestígios de uma muralha do século XIII que protegeu a cidade dos mouros na época da Reconquista.
Na zona do museu existem outros vários prédios históricos e monumentos. Na verdade aquela área toda diz pra mim uma palavra: comércio (inclusive é bem próxima à Praça do Comércio - cartão postal de Lisboa). Hoje e no passado, o que você verá é a riqueza do comércio em cada tijolo nas paredes.
Se estudarmos um pouco de história notamos que Portugal teve tudo para ser um país capitalista, e como não poderia ser diferente deve sua riqueza de outrora ao comércio. Tinha como grande parceiro comercial a Inglaterra e magníficas colonias no planeta inteiro.
Devemos muito a nossos destemidos ancestrais de baixa estatura e suas grandes naus.
Voltando ao museu, após passar por um sistema de segurança moderno (o valor de algumas peças do acervo é inestimável) você estará no grande hall onde iniciará seu passeio. Eu decidi andar sozinho, mas dependendo do museu valem a pena as visitas guiadas.
Igrejas católicas são excelentes imóveis.
O belo brasão real das armas português
está por toda Lisboa.
Ao passar por este cofre se inicia o passeio.
Desde o começo existem algumas geringonças interativas para aumentar sua imersão no assunto além da exposição, por isso é bom ir sozinho e com tempo para estudo.
Na primeira parte vemos como surgiram as primeiras moedas e meios de troca em civilizações antigas, e seus processos de cunhagem. Em todas as seções se descobre algo sobre como o governo sempre buscou controlar a emissão e disponibilidade da moeda.
Uma faca de bronze usada como
Dinheiro em determinado local da China antiga.
Moedas dos mundos clássicos grego, romano e chinês.
Os chinos foram os primeiros a imprimir papel-moeda. Isso resolve a questão da escassez de lastro pro governo...
A palavra dinar chegou à arabia através da europa (e não o oposto), sua etimologia traça ao denario romano.
As primeiras Letras de Crédito (esta sueca até não é tão antiga) eram feitas à mão e exigiam selos e várias assinaturas para atestar sua autenticidade.
Sempre que visitar um museu ou monumento, é importante colher informações para mais tarde saber o porque das coisas terem mudado, e não simplesmente pensar "ah, foi assim". Não seja a maioria.
Uma parte legal de conhecer é sobre como surgiram os bancos e diversos serviços e produtos financeiros na idade média. Pretendo visitar Veneza pela curiosidade que tenho sobre o papel da cidade no comércio. Tinha um grupo de mauricinhos por ali então não tirei fotos.
Depois começa a ficar mais específico sobre o dinheiro na península ibérica e Portugal. Em razão da localização costeira Portugal sempre foi importante para a Reconquista e alcançou seu ápice no comércio no periodo das grandes navegações.
Antes do BRL, já existiu uma moeda chamada Real.
Cruzado também. Os cavaleiros cruzados eram os comandos de sua época e terror dos invasores vikings e mouros.
Ao ser o primeiro país ibérico a enxotar os muçulmanos, Portugal pôde finalmente cuidar do que mais interessa: business. Isso deu-lhes uma enorme vantagem e ensina uma lição: mantenha seus concorrentes brigando entre si.
Se você acha difícil dirigir até o Paraguai pra buscar muamba, imagine a vida desses caras.
O que mais me interessou no acervo foram as ligações com o Brasil. Nosso país exportou uma quantia considerável de ouro para Portugal, que por sua vez estabilizou a escassez do mineral na Europa em algumas crises.
Um território tão grande e rico a ser explorado e defendido precisava de gente, a a resposta à este problema estava dentro das prisões lotadas de Lisboa. Assim muitos degredados tiveram sua segunda chance.
Observe em como a massa aprende história dissociada de economia, quando na verdade é nos fatores econômicos se encontram praticamente todos os motivos. À massa não é ensinada história nem o modelo capitalista. Apenas socialismo e baboseiras.
D. João V decretou que o ouro brasileiro só poderia ser transpotado em moedas e barras marcadas fim de atacar a sonegação.
Moedas portuguesas com ouro brasileiro.
Aqui se fala do Banco do Brasil. Aposto que você não sabia que o BB foi o primeiro banco português. Eu também não, fiquei sabendo hoje. Portugal não tinha nenhum banco antes da ida da família real ao Brasil.
O Brasil se modernizou muito com a ida da família real. Fábricas, cidades, estradas e novas leis foram criadas. Uma dose de estado (mínimo) instituído é sim interessante. Também podemos dizer que o país só se tornou um país após a independência em 1822. Pelo menos os USA se consideram assim.
Sabemos que em inglês o termo stock (estoque) significa um pequeno pedaço de uma empresa. Isso se dá por as primeiras ações serem partes do estoque de um navio mercante. Em português chamamos de "papéis" por o direito à ação estar antes da internet, em papéis.
Pelo jeito carimbaram o papel cada vez que o stockholder coletava sua parte nos lucros.
Ao final desta seção mostravam as moedas mais modernas de portugal, da República velha (golpe liberal), do estado novo (anticomunista), da volta à democracia e finalmente a adesão ao Euro.
Na próxima seção se conhece alguns processos modernos (ou nem tanto) de impressão de papel-moeda.
Uma forja.
Fazer dinheiro dava trabalho
Ninguém me tira da cabeça que qualquer país por ai seja capaz de imprimir grana dos outros.
Se isto fosse uma obra de arte, se chamaria "armagedom inflacionário".
Tem também uns microscópios para ver fibras de papel e curiosidades inúteis do tipo "superinteressante".
Mais além tem uma seção com notas de dinheiro antigas do mundo todo. Achei interessantes as notas das colonias britânicas com a ainda jovem rainha Elisabeth, as do inferno Soviético e Alemanha Oriental, com Lenin e Marx estampados.
Antes do fim do percurso com uma breve explanação sobre a igreja que lá existiu (também se pode visitar os vestígios da muralha com exemplos de métodos arcaicos de construção de fundações da cidade) ainda tem uma parte com videos de pessoas comuns falando o que acham que é dinheiro, vale a pena conferir todos e você pode até gravar o seu e disponibilizar para o museu. Uma ideia fantástica.
Na saída você pode adquirir souvenires e diversos livros (olhe no site). Apesar de caros me interessaram muito.
É um local que vale a visitação, mesmo que queira só dar uma voltinha de 15 minutos. A localização é boa para turistas e é garantido sair menos burro do que entrou.
No Brasil existe o Museu de Valores do Banco Central que deve ser bem interessante. A história do dinheiro e capitalismo é o tipo de conhecimento que não se estimula às massas a aprender. Você não vai ver muito disso na escola. Ao invés disso talvez lhe façam decorar bobagens e visitar o museu com a boina e o óculos de algum escritor socialista. É importante se auto-educar.
Grande abraço!