Existe um tema objeto de estudo dos gurus de finanças pessoais chamado ciclo de vida financeiro, usado pra recomendar investimentos mais apropriados para cada período da vida. Isso tem sentido se você considerar que um jovem tem mais tempo pra arriscar lucros maiores que uma pessoa mais velha, e porque é necessário acumular dinheiro pra que ele renda. Porém, deve-se ir além de simplesmente considerar a idade x risco.
Historicamente a bolsa de valores remunera mais capital no longo prazo, mas também estamos falando de Brasil, um país com inflação aterradora, corrupção empresarial (falar da estatal seria pleonasmo) e várias outras questões e políticas que influem na criação e manutenção de patrimônio, inclusive o desestímulo chamado impostos que tem como fim ações socialistas. Enfim, pelo menos pra mim, renda variável é pra quem já tem algum dinheiro, nem que seja um colchão de segurança, ou ganha bem e aporta uma fração nelas.
Como alguém sem nenhum dinheiro vai alocar todo o seu patrimônio a alto risco que pode te render 17% em uma semana? Pra mim isto é insensato, por mais que a bolsa seja mais segura no longo prazo em condições minimamente capitalistas, é insensato.
Também sabemos que detalhes pessoais, como morar com os pais (se seu ambiente familiar permitir), ter bolsas de estudo, ser funça público, ter certo patrimônio formado, alguma familiaridade com investimentos, facilidade em buscar financiamentos, dívidas, doenças, a cidade em que mora, etc, tem influencia na composição de sua carteira.
Sempre observei que vários na Blogsfera apostam (quase) tudo num só tipo de investimento (incorro ao mesmo erro). Alguns até se baseiam no Warren Buffet que diversifica pouco. Só que o WB tem ações nos USA, é poderoso politicamente e tem bilhões de dólares que demorariam várias vidas pra perder.
Neste post vou sugerir de maneira aproximada como deve ser composta uma carteira de investimentos genérica de acordo com o ciclo de vida. Apesar do modo como escrevo, não levem ao pé da letra.
Dos zero aos vinte e cinco anos:
Objetivo: alcançar 100k em patrimônio.
Em primeiro lugar, deve-se ser poupador desde bem jovem, por isso estimule seu filho a estudar e se aperfeiçoar na ciência do dinheiro. Falo por mim. Sempre fui poupador, mas se tivesse lido "Pai Rico Pai Pobre" com 10 ou 15 anos, provavelmente hoje eu estaria mais longe da pobreza. Talvez tivesse feito qualquer curso técnico e saído do Brasil antes, mas nada disso importa.
Hoje penso que é "obrigação" de um pai (que tenha condições) fazer o filho chegar aos 25 anos com no mínimo 100 mil reais. Não digo com 100k no bolso do filho, mas 100k de patrimônio pra começar a dar seus passos sozinho, que seja como colchão ou num imóvel... Claro que se deve considerar que prover no mole estragará o cidadão, e que esta soma é só um exemplo pra minha realidade, se a sua é diferente, desconsidere. Você pode ter outras estratégias como investir mais em estudo no começo da vida, jogar futebol, esta é apenas uma.
Mas este valor é fácil de juntar em 25 anos (e até desde antes) apenas aportando uma miséria por mês e cortando hábitos comuns nocivos. Além disso, a princípio é pra ELE tentar juntar, não você.
Infelizmente meus pais não pensaram assim. Pensaram que nem pobre, estudar muito pra trabalhar pra alguém e deixá-lo rico.
Currículo freireano.
O ideal é que os pais administrem uma poupança (mas não no lixo da conta poupança) para o filho desde antes de nascer, mas é raro que isto dê certo. Lembro de ter minhas economias surrupiadas mais de uma vez por meus pais quando eles precisaram. Recebi de volta, comprei um Super Nintendo, anos depois um Playstation 2, mas por mais de ano fiquei parado sem aportar as migalhas e durante o período eu parava de acumular na esperança de receber (porque você vai retomar uma poupança se ela pode ser tomada?). Ficou algum aprendizado disso. Principalmente que juntar é difícil e perder é fácil.
De qualquer maneira, até os 15 anos o ideal, digo, o essencial, é desenvolver uma mente poupadora e frugal, ensinar a diferença entre ativos e passivos e criar o hábito de guardar uma porcentagem de tudo o que fizer, além de nunca se endividar. Outra coisa é que deve-se trabalhar desde cedo, tanto para aprender quanto para juntar dinheiro. A classe média tem começado a trabalhar cada vez mais tarde e a prole "estudante" vagabunda suga muitos recursos da família, que poderia acumular. Infelizmente não posso dizer que comecei a trabalhar cedo, pois fui proibido por meus pais. Geralmente pais burros creem que trabalhar atrapalha o estudo inútil do currículo estatal e privam seus filhos de muito aprendizado prático.
A princípio seus filhos não devem estudar na faculdade sem trabalhar, e se você pagar moradia, ele deve pagar o estudo. De qualquer maneira ele deve trabalhar, de preferência antes de escolher o curso (você deve influenciar com potência). Fazer um curso técnico durante o segundo grau e servir um ano ao exército são bem vindos na minha opinião.
Tenho um parecido.
Nem é preciso dizer que um pai poupador teoricamente vai ter grana pra meter o filho em uma faculdade de medicina. São 5 mil reais por mês totalizando uns 300k (no total), que se pagam facilmente quando o cara se formar. Conheço mais de um estudante de medicina numa shitversidade que entrou com cotas, nunca estudou na vida e vai ser muito mais rico que eu. Considere que medicina é imbatível. Engenharia também é boa, minha esposa é engenheira portanto sei do que falo. O resto é tudo porcaria tirando ser empresário ou funça público. Se você escolheu algum lixo, paciência.
Financeiramente, até os 25 anos você deve alcançar os 100 mil reais. Pode ser em títulos, CDBs, Letras, imóveis... Desde que destrua esta barreira. Este valor será sua base.
Prêmio: Apenas carne de ovelha assada, pois você ainda é pobre.
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Dos vinte e cinco aos trinta e cinco anos:
Objetivo: alcançar 350k em patrimônio.
Não vamos tratar daquele papo de não casar, não ter filhos, viver com os pais pra sempre, nunca comprar nada, isso todo mundo sabe que é benéfico financeiramente de certa maneira. O que se deve fazer é, em primeiro lugar, continuar a viver como "pobre" por 8 a 10 anos depois de formado. Viva frugalmente, faça exercícios, aprenda a se defender e a sonegar impostos, desenvolva habilidades, aprimore sua educação e cultive bons relacionamentos. Estes hábitos devem prosseguir pro resto da vida.
Até o limite de 35 anos seu foco deve ser adquirir a "semi-independência financeira".
Não amigos, não sou exemplo literal do que descrevo neste post, mas sem dúvidas é possível implementar esta estratégia, que mantém como característica mais importante uma constante evolução.
Vocês devem saber tenho quase 30 anos e estou bem longe dos 350k. Como disse, neste post descrevo o que pra mim é próximo de ideal, e acredito que devemos buscar o ideal não importa o quão longe estejamos dele.
Tente estimular seu gênio financeiro para ganhar dinheiro com qualquer coisa, vender carros, roupas, perfumes, gado, terrenos, ganhar apostas, fazer bicos... E até os 25 anos é a hora certa de se fazer isso, pois idiotas compram tudo. Trabalhar com vendas é um bom caminho pra quem não é empresário.
Agora cabe reservar uma parcela da sua grana como Capital Alocado a Risco para especular, mas o grosso do seu capital deve estar em renda fixa, já que no Brasil temos excelentes opções que pagam acima da inflação exorbitante, como Tesouro direto e LCI/LCA de bancos pequenos. De qualquer forma, concentre-se em burlar impostos e aportar.
Seus aportes mensais provavelmente estarão maiores. O ideal é que sejam de 2 mil reais, pois você está mais qualificado ou fazendo bicos e isto possibilita partir pras ações, mas se não der tente fazer pelo menos uma média de mil. Como estou atrasado na minha estratégia, aporto mais forte na renda fixa.
Ou seja, tendo os 100k, destine um mínimo de 1200/1500 reais por mês que chegará aos 350k facilmente neste período, e se puder aportar mais, coloque na renda variável. Para destruir a inflação pesada, existem produtos que pagam acima dela.
Prêmios: Relógio Omega Seamaster e moto Yamaha RD 135.
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Dos trinta e cinco aos quarenta e cinco anos:
Objetivo: alcançar UM MILHÃO em patrimônio.
A partir deste valor os juros compostos começarão a agir com esteroides, aniquilando a maldição-Brasil (viver no Brasil que faz você trabalhar mais e pagar mais caro por coisas de má qualidade).
Neste ponto pode-se dizer que você entrou na pista de alta velocidade. O medo de ser demitido desaparece (principalmente se você já tiver casa própria). Perspectivas de ir embora do país surgem. Você começa a planejar maquiavelicamente maneiras de chegar no milhão e parar de trabalhar.
O melhor de tudo é que o rendimento de seus investimentos praticamente fará o trabalho sozinho. Vamos aos cálculos com a alocação:
Façamos a louca alocação dos 350k em 4 investimentos divididos de maneira igual, totalizando R$ 87,500 em cada. De modo mais realista você optaria por uma divisão de acordo com suas necessidades e perspectivas para os próximos 10 anos.
25% Tesouro Direto
25% FIIs
25% Ações
25% LCI/LCA
Vamos continuar usando o rendimento médio conservador de 0,8% ao mês (na parte de acúmulo de capital, você jamais teria certeza deste rendimento se tivesse investido tudo na renda variável apesar do histórico foda da bolsa). Se você não aportar
NADA durante esta "reta final", seguramente vai chegar perto dos 500k aos 40, ou seja, com apenas 35 anos alcançou a semi-independência financeira enquanto 90% da população está endividada e não tem nada, e aos 45 pode parar de trabalhar como uma mula.
Agora, falando de uma pessoa que consegue aportar mais de 3k por mês, passa do milhão fácil mesmo pagando 15% de imposto em tudo (considerei até nos FII e nos LCI/LCA que são isentos).
Se aportar 100% em TD provavelmente vai pegar no vencimento bem mais de um milhão
pagando 15% de imposto e sem aportar nada.
O seleto clube do milhão.
Veja como é fácil chegar ao milhão aos 45 anos (quando primeiro escrevi este artigo, considerei 100k até os 20 anos, o que é possível, mas improvável pra maioria, e aos 40 chagar no milhão) se você tiver hábitos frugais
simples. Na verdade, se você destinar 100k ao tesouro direto, provavelmente vai ter perto de 1kk em 20 anos. Por isso eu disse: você deve ter 100k de base.
Prêmio: Mude sua profissão para "investidor".
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Comece o caminho do zero (aniquile dívidas, comece a poupar, etc) sem se importar com a idade. Antes de dinheiro, o mais importante é qualidade de vida. Pense em
soluções pra falta de dinheiro. Não tem grana pra ir pra praia uma vez por ano? Passa 4 horas por dia no trânsito? Largue tudo e vá MORAR na porra da praia, por exemplo.
Lembro de uma piada sobre isso: "você passa um ano todo trabalhando pra viver como índio por uma semana".
Se você acha que 45 anos é muito tempo pra quantidade de esforço que descrevi, pense em quantas pessoas de 40, 50 ou 60 anos que você conhece que tem um milhão de patrimônio. A maioria vai trabalhar até morrer e depender do governo e da família.
De qualquer modo o que vai te fazer deixar de ser pobre é saber usar dinheiro, não ter um milhão.