Olá anon, é exatamente isso, tornei-me carpinteiro, ou por enquanto um ajudante de carpinteiro.
Fiz isso por uma série de motivos. Sempre me interessei por construção civil, minha família materna é toda do ramo (engenheiros, mat. Construção, olaria, imobiliária...) mas meus pais me afastaram com unhas e dentes do ramo por ser algo fisicamente demandante e repleto de pessoas sem instrução (sonhavam que eu estudasse direito). Talvez isso tenha me revoltado pois eles são cultos e qualificados porém pobres até hoje, além de sempre terem sido bastante infelizes em seus trabalhos.
Antes de seguir um parêntese. Minha mãe abriu mão de viver na Europa quando jovem para ficar com meu pai. A medida em que fui amadurecendo, vi que tinha melhores resultados seguindo meu instinto e observação que as dicas profissionais de pessoas sem sucesso.
Sou mais um dos inúmeros enganados pela indústria do ensino superior, e naturalmente fui me voltando à construção desde os primeiros terrenos que tive a sorte de comprar e vender com lucro anos atrás (descrevi aqui no blog). Também descrevi outras experiências, como a compra, reforma e venda de um kitnet, trabalho como pintor (vi que estes conseguiam fazer meu salário em duas semanas), etc.
Atualmente, graças a anos de trabalho, poupança e frugalidade minha e de minha esposa e também por morar em Portugal, onde se vive bem com pouco dinheiro, não somos mais dependentes do salário (me refiro não a viver de nossa renda passiva, mas poder apelar a ela caso necessário).
Portanto pude me dar ao luxo de dedicar-me a aprender uma nova profissão, tanto por afinidade (prefiro carpintaria à outras áreas da construção, quanto pelo meu objetivo: saber o suficiente para me tornar mestre de obras e controlar o feitio de minhas próprias casas).
Não sou inocente a ponto de recomendar que as pessoas larguem seus empregos e se tornem carpinteiros ou pedreiros, tem muita coisa envolvida. Dito isso vejo hoje que estaria nesse ramo tendo ou não minha modesta renda passiva, e para alguns amigos próximos que demonstram amor a esse tipo de trabalho recomendo sim que larguem tudo logo e persigam uma carreira neste ramo, que é ótimo.
Li o livro do Arnold Schwarzenegger em 2013, onde ele descreveu ter feito fortuna tanto na construção e reforma quanto no trade imobiliário. Isso me motivou bastante assim como o Pai Rico Pai Pobre do Kiyosaki, que é essencialmente sobre enriquecer com imóveis. Sobre este livro em particular, vi os dois lados em primeira mão: eu havia sido vítima do "pai pobre" a vida inteira, enquanto que em volta de mim sempre houve um "pai rico" (meu avô) o qual sempre tive receio de seguir os conselhos - para você ter uma ideia, eu preferi terminar a faculdade e me tornar empregado a abrir uma empresa de esquadrias de metal que ele havia me proposto, por um medo irracional impingido desde a infância de ser um desqualificado. Isso ainda me torturava a até algum tempo atrás.
A mudança compensa financeiramente pois sou um profissional mediano (pra ruim) na minha área de formação e desde a faculdade tenho zero interesse em fazer carreira nela, tanto que buscava cursos em outras áreas correlatas esperando que o mercado os valorizasse e me premiasse com um emprego decente em outra coisa. 99% dos formados na minha área faz um salário igual a alguém sem formação alguma, e pior, tem poucas opções. A maioria dos meus ex colegas está desempregado ou ganha menos de 1500 reais. Qualquer ajudante de pedreiro ganha mais que isso de onde venho.
Gente de obra ganha bem e tem um leque de opções que lhes permite estar exposto à empreitadas mais lucrativas aqui e ali, diferente das pessoas comuns que dependem de poupar bastante e investir por muitos anos como se vivessem uma "vida renda fixa". Esse caráter também me agrada. A "sorte premia os audazes", e eu sempre fui audaz o suficiente pra ser sortudo. Se você é leitor de meu blog sabe que tenho repulsa à ser empregado, pois nesta condição meu esforço jamais foi premiado.
Ainda nesta questão tive uma conversa sobre o lucro líquido na construção de uma casa popular, especialidade dos meus tios e fiquei revoltado ao saber que eles, engenheiros civis, além de socialmente poderosos e admirados, lucravam líquido construindo uma casinha em 3 meses o que eu conseguia poupar em um ano ou mais, e este era o trabalho mais simples que eles executavam fora a venda de lotes.
Além da parte financeira algo que me motivou muito foi a sensação de liberdade e total independência de chefes bundões e colegas insuportáveis comuns no ambiente corporativo. Qualquer um que trabalhe com construção pode, caso queira, ficar em casa assistindo Chaves e Sessão da Tarde caso tenha o serviço adiantado que não vai perder o emprego.
Nos últimos anos fui bastante influenciado sobre aquele papo de "parar de sobreviver e começar a viver" e pela filosofia Objetivista de Ayn Rand. Foi ai que finalmente deixei de ser um cagalhão preocupado com escola, notas e carreira encaixotada e vi que tinha pouco tempo para realizar meus sonhos e tudo ia depender de eu ser corajoso e disciplinado mais do que um comprador de diplomas.
Ayn Rand
Enfim, ao longo da vida tive muitas confirmações de que é um excelente ramo financeiramente, que atende bem meus objetivos de vida, e finalmente suprimi os últimos preconceitos em relação a trabalhar nisso. Entendo totalmente sua dúvida e anos atrás eu mesmo faria esta mesma pergunta com espanto. Na verdade, muitos pedreiros tem recalque e acham que quem tem faculdade ganha bem e não faz nada. Eu tenho como vantagem conhecer os dois lados.
Estou tendo total apoio de minha esposa como sempre, e isso ajuda imenso.
Enfim coloquei "construtor" ao invés de carpinteiro no título pois meu objetivo é tornar-me uma espécie de empreiteiro e não só trabalhar com madeira. Isso é possível para quase qualquer homem saudável no Brasil. Há cinco anos eu não conseguiria nem mesmo conceber esta ideia.
Um abraço e "buona fortuna" a todos.