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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Bem Vindos à Era da Esterilidade (guest post)

Boa noite amigos, hoje inauguro aqui no Blog a seção dos posts de convidados. Um amigo da vida real, que quis se identificar como Barão de Eschwege escreveu um excelente artigo que tem tudo a ver com o momento atual da minha própria vida, pois eu decidi abandonar minha profissão e tornar-me um carpinteiro - fiquem ligados.
 
 
 Bem Vindos à Era da Esterilidade
Barão de Eschwege
 

Trabalhei durante anos com publicidade online, sempre senti uma inquietação, mas não sabia o que era, até que após meses desiludido com a carreira, fui demitido. O que foi excelente. Há 10 anos querendo viajar e morar fora, com uma certa quantia na conta, resolvi fazer isso e comprei uma passagem para 3 meses a partir dali. Nesse período me interessei por carpintaria, e como meu avô sempre trabalhou com isso, resolvi pedir para ele me ensinar o básico do ofício. Aí que estava o problema e finalmente entendi a minha frustração com a antiga carreira.

Em poucas palavras: Não era real! Nada do que eu fazia era real, eram coisas feitas no computador e que lá ficariam.

Isso tudo me fez pensar sobre a frustração, ansiedade e outros problemas que o mundo digital nos traz, o que me trouxe até esta conclusão: vivemos em uma era de esterilização.

Não sei dizer que convergência ou forças nos movem para esse caminho além do que pode se ler nos livros de história sobre revolução industrial e o que vem a partir disso, mas é um sentimento de que algo acontece sem que nos demos conta. Uma morte silenciosa, como um animal colocado em água fria numa panela à ferver.

O avanço da tecnologia, tirando obviamente todos os seus benefícios, traz consigo um outro lado: A digitalização e o afastamento do físico, do palpável. As pessoas estão desaparecendo como espíritos presentes, seja para o mundo, seja para o seu circulo íntimo de pessoas.

A arquitetura há muito tempo é pobre, decoração pobre com seus visuais clean, as pessoas tiram cada vez mais e mais fotos mas quase ninguém as imprime, ouvem músicas no Youtube ou Spotify, anotam seus recados no Evernote, OneNote etc, assistem filmes pela Netflix, leem livros no kindle e por aí vai.

Não estou dizendo para deixar de usar estes recursos, que são ótimos e que eu particularmente uso todos os dias, só falo para usar com moderação, não deixando que isso engula a sua vida.

Posso dizer com segurança que muitas pessoas se morressem hoje, suas memórias mal preencheriam uma caixinha de papelão. Você morre, praticamente recolhem as roupas e escova de dentes na sua casa e já está pronto para qualquer um ocupar aquele espaço como se você nunca tivesse existido. Hoje em dia tudo é descartável, até relacionamentos e pessoas!
 
 
Kindle é legal e prático, mas de quem é isso aqui?
 
A morte é um processo não só para quem morre, mas para os que estão ao seu redor também, e julgo ser importantíssimo deixar um impacto no mundo e na vida das pessoas. Deixar lembranças.

É legal que algum ente ou amigo, que após a sua passagem vá recolher as suas coisas, seja para vender, doar, guardar para si, consiga enxergar você no lugar onde você viveu. Livros, álbuns, souvenires, filmes, decoração... É parte da experiência de passar por este mundo. Preserve amizades. Conheço gente que muda totalmente o círculo de amigos a cada seis meses.

Veja bem, não estou dizendo para sair comprando desenfreadamente coisas para entulhar na sua casa de tralhas, isso é consumismo. Compre apenas o que julgar necessário e de preferência coisas que carreguem uma história e pessoas na sua compra. Evite coisas descartáveis, pense como se pensava até uns 100 anos atrás e dê preferência para coisas que foram feitas para durar.
 
 
 
Durável, personalizado


Se possível, faça você mesmo. Aprenda um hobby/ofício que te dê dinheiro. Trabalho artesanal com madeira, couro, metal. Você pode fazer coisas que durarão 100 anos ou mais, para você mesmo, para presentear pessoas que você gosta, para desestressar ou até ganhar uns trocados. Quem sabe, até mudar de profissão?

Você estará deixando a sua marca no mundo, nas vidas das pessoas e até mesmo fazendo um favor ao meio ambiente.
   
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O que o Eschwege escreveu me lembrou um pouco a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, mas não tem nada de Marxismo ai. Apenas um pouco do desespero que a desumanização que a vida moderna nos impõe. Vocês que acompanham o blog sabem que sou a favor de você produzir, ser prático e aprender todos os dias coisas úteis. No fim não se trata de dinheiro, e sim de que se você não fizer isso, só estará esperando para morrer.
 
Em breve minha mulher vai escrever sobre suas impressões da sua estadia na Itália, de quando esperava o fim de seu processo de cidadania.
 
 

28 comentários:

  1. Boa, CF. Curti o formato. Bom texto do Barão.
    Abraço!

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  2. Curti não.

    Não vejo o motivo de acumular coisas se não for para usá-las depois. E sinceramente, qual a diferença de um físico pra um digital? O conteúdo é o mesmo, tem que escolher apenas o formato que mais se adequa a necessidade... Vou dar um exemplo: livros. Sempre achei que livro era o que tinha cheiro de papel, até comprar um Kindle e ver que ler nele era até mais confortável. Mais leve, quando você muda de casa não tem que empacotar nada, essas coisas. Estou no meio de uma viagem para o exterior e trouxe dois livros novos no Kindle para ler no avião/aeroporto. Acabei os 2 (note a diferença de peso na bagagem) é o que fiz? Comprei outro pelo Wi-Fi do aeroporto e pronto, no dispositivo. Não é uma coisa que daria pra fazer sem ser no formato digital...

    Por isso acho que é besteira esse trem de "livro que é livro tem que ser de papel,então online". Afinal, vc quer ter uma estante de livros cheia pra pagar de fodao pros seus visitantes ou quer ler livros?

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    1. Veja, o livro digital, assim como o resto, tem suas qualidades. Eu prefiro impresso, pois leio ou consulto infinitamente mais vezes, mas perdi toda minha coleção quando mudamos pra Portugal (uns 15 acho). Tenho um livro digital aqui, gosto muito dele mas nunca leio já outro em papel abro toda hora pois está na sala. Tem gente que está sempre com um tablet ou na frente do computador, eu não.

      O texto é mais sobre fazer coisas úteis, construir seu "craft" e levar uma vida menos virtual e fabricada em massa.

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    1. Pedi pra ele produzir mais sempre que quiser. Vai ser bom ter ajuda aqui.

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  4. Pelo titulo achei que o texto iria tratar de outro assunto, mas tudo bem. Só concordo com o começo do texto, o resto me pareceu muito prolixo e esquerdinha.

    Abraços!

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    1. Acho um pouco difícil tratar do assunto sem precisar por vários parênteses, por isso geralmente falo de algo específico com exemplos claros, tipo: "saiba trocar uma lâmpada, seja útil", senão pode ficar fácil de confundir alguns conceitos mesmo.
      Abraço meu chapa

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  5. Gostei muito do texto CF.
    Muito bom para refletir o que andamos fazendo com nossas vidas.

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  6. Minha esposa e eu compramos os móveis daqui de casa em antiquários. Os móveis são todos de peroba do campo (madeira não mais usada em grande escala) e com formas trabalhadas. São móveis que talvez seu avô tenha ajuda a fazer e com quase 60 anos e estão perfeitos e poderão ser usados no futuro por outras pessoas. Podem ser montados e desmontados infinitas vezes. Os móveis, hoje em dia, são em MDF lixo puro, se desmontar uma vez não monta nunca mais. Gastei o mesmo valor em móveis de madeira de lei que devem durar e se valorizar com o tempo. Quando posso sempre compro produtos antigos e de qualidade. Tem outro fator legal comprando produtos usados e bons você não contribui com impostos para o governo que nos rouba todos os dias.

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    1. Que excelente comentário, amigo PdC.
      Antes de virmos tive que vender alguns móveis de alta qualidade antigos que minha esposa herdou. Foi uma pena. Como você disse, além de muito belos se valorizam.
      Aqui eu trabalho com paineis de MDF as vezes e cada vez que toco naquilo sinto estar tocando num pedaço de lixo. Tive a sorte de alugar uma casa mobiliada aqui. Pra poupar foi bom apesar de os móveis não terem nossa identidade, mas isso evitou que eu comprasse aquelas porcarias baratas de MDF na pressa.

      Gosto muito de itens bem feitos em madeira de verdade. Nesta semana reformamos uma escada na casa de um senhor, muito bonita.

      Grande abraço.

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    2. Complementando seu comentário, antigamente não era muito comum investir em papéis, e as pessoas adquiriam/faziam obras de arte, móveis e imóveis de boa qualidade. O verdadeiro patrimônio.

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    3. O brasileiro mora de aluguel vai nas casas bahia e compra os móveis lixo à prestação depois quando mudam de casa o processo se repete, pois os móveis já não prestam para nada. Quando eu não tinha casa própria eu e minha esposa só tínhamos cama, geladeira, uma mesa e fogão e todos de segunda mão. Quando comprei nossa casa aí sim mobiliamos como queríamos. O pobre de espírito (pode ser que a pessoa não seja pobre de dinheiro) não percebe que a ordem correta é compro minha casa e depois mobília e se der um carro. Eles invertem a lógica natural compram carro, móveis e moram de aluguel. Nós sempre vamos estar à frente da maioria, mesmo que tenhamos que surgir das cinzas mas sempre estaremos em vantagem.

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    4. Essas pessoas são mesmo burras. Compram lixo com dinheiro que não tem.
      O principal é buscar sempre uma posição vantajosa. Sua lógica está correta.

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    5. Morei em muitos lugares temporários (aluguel) antes de comprar meu primeiro imóvel. Em todos os casos somente tinha: colchão (nem cama), fogão e geladeira. Até agora não conhecia ninguém que havia feito da mesma forma ou que achasse isso normal. O resultado ? Acho que deu certo pois hoje tenho vários imóveis, frutos de uma vida de muito trabalho e muita economia. Incrível também ouvir a expressão "pobre de espirito". Minha mãe sempre diz que pobre (de dinheiro) é pobre é porque é pobre de espirito.

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  7. Felicidade sua estar longe do Brasil agora que as reformas econômicas não vão passar. Não sei se é religioso, mas se for, reze por nós!

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  8. Muito boa a reflexão CF, mas para além de uma esterilização, eu estou num momento minimalista, que aparentemente se chocam, mas para mim esterilização tem a ver com possuir muita coisa e não ter nada. Já na visão minimalista, acho legal a sacada de poder se virar com mínimo, você não precisa de muita coisa na real.
    Mas numa coisa concordo absolutamente contigo, temos de aprender todos os dias coisas úteis!!!

    abs

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    1. Minimalismo é praticamente inerente ao homem de verdade. Porém melhorar sua vida e buscar conforto, e expressar-se através das artes quando as necessidades estão supridas também o é, e hoje vivemos em um tempo onde tudo é estéril, artificial, vazio... Não é o craft de alguém e sim algo estéril fabricado em massa que qualquer um tem acesso se puder pagar.
      Enfim, é um boa reflexão.

      Um abraço!

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  9. Muito boa esta reflexão sob o pseudônimo Barão. Lembro bem que quando me formei engenheiro estava escrito em nosso juramento de formatura "não deixarei me cegar pelo brilho da tecnologia". O que ninguém imaginava naquela época é que a tecnologia fosse se tornar uma força motora da economia e da "nova" sociedade. Hoje mais de 30 anos depois, compartilho o pensamento o Barão sobre o vazio existencial que a vida digital está trazendo as pessoas. A história do pensamento sempre teve essa pergunta como incio, meio e fim do pensamento: "Qual o propósito da vida ?". Agora deve surgir uma nova geração de filósofos para questionar "Qual o valor da vida digital ?". O Barão tem um pouco de filósofo ao questionar esta ética.

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  10. Discordo... O que há de errado de deixar o mundo sem um legado? Qual diferença vai fazer pra você? Acho que o importante é o que se faz em vida, ser uma pessoa honesta (na medida do possível pq sabemos que no Brasil honestidade plena é impossível de se ter), trabalhar em algo que agregue algo ao próximo, fazer algum tipo de caridade, dividir conhecimento e deu. Não gasto dinheiro com souvenirs, não tenho mais livros físicos e se morrer hoje minhas coisas serão pouco mais que uma escova de dentes e uns cacarecos numa caixa de papelão. E daí? O que isso muda a humanidade. Acho que devemos parar de achar que somos super-pessoas, o egocentrismo está impregnado na maioria das pessoas e elas nem se dão conta disso... Comprar móveis descartáveis ou carregar mobília a cada mudança? Cada um acha uma ou outra alternativa melhor... É libertadora a sensação de não acumular coisas, de ter tudo em meios digitais ou somente fazer uso das coisas invés de possuí-las (como o Uber por exemplo). Acho que o mote do texto é algo ultrapassado...

    Abraço!

    Corey

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    1. Olá Corey, eu compreendo e concordo em certo ponto, mas esse niilismo quando levado ao extremo é o caminho para ser dominado. Não existe vácuo no poder e desejar ser um floco boiando no vácuo leva não à liberdade, mas à certeza de escravidão.
      O legado que o Barão se refere pelo que percebi faz parte do transformar o mundo em algo melhor, independente de não fazer muita diferença pro resto do universo se existimos ou não.

      Grande abraço!

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